quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Uma pequena nota

Vim aqui avisar rapidinho que enquanto as câmeras não me olham eu vou dar uma saída, vou alí sem lenço e sem documento, vou ser livre por alguns minutinhos, só andar um pouquinho, sentir um pouco o ar, sair da rotina. daqui a pouco tô de volta pra me filmarem.
Me espere pra jantar que eu volto, beleza? Vou só ser feliz por alguns minutinhos, ser eu mesma, daqui a pouco tô de volta, não se preocupem.
Se deixei meu celular em casa porque não quero me preocupar, quem me conhecer vai saber me achar, felicidades aí pra quem segue a tua vida.
Mil beijos, eu volta pro jantar, fiquem tranquilos, quando as câmeras voltarem a funcionar estarei de volta.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Alma revolucionária

Era uma vez uma menina, ela sonhava bem alto, chegava a ir no céu. Ela era tudo, bailarina, princesa, heroína, matava dragões, pulava de um sofá para o outro, penteava suas bonecas, era estilista, cabeleireira, professora, jogadora de futebol.
Quando tinha mais ou menos dez anos reparou que o mundo não a deixava ser assim, que ela não poderia ser tudo, ou o que ela quisesse, então queria mudar o mundo, fazer revoluções e ser tudo, mudar todo o mundo, todo mundo, e todos seriam felizes.
Ela que sempre se sentiu revolucionária, mas não podia fazer nada quando era criança e quando mais velha reparou que ela já poderia mudar o mundo, mas não se lembrava de suas revoltas, dos seus espantos, agora ela era só mais uma no mundo, só mais uma na sociedade, agora os outros que queria que ela mudasse.
E assim seguiu sua vida com vontade de mudar, mas sem saber o que nem como. Ela simplesmente havia se esquecido de como era bom ser bailarina, matar dragões e viver o seu mundo, ela havia se esquecido de como era ser criança e agora era apenas uma pessoa com diploma que ás vezes se lembra que já foi criança quando escreve um conto de fadas.

domingo, 17 de fevereiro de 2013

Fim

É, acabou o carnaval. Para cada um essa frase tem um sentido diferente. Carnaval é uma magia inexplicável. Fantasiar-se, sentir-se feliz sem motivo, pular nas músicas que não gosta. Todos são felizes, bailarinas, bruxas, fadas, borboletas, cozinheiros, minies, onças, palhaços, até o Pierrot que chora há anos pela Colombina.
Nos deram quatro dias para ser feliz, fazer o que quiser, sambar com estranhos, não se importar com sede, fome ou calor. Agora vamos voltando para nossas vidas, voltando a ser estudantes, professores, atores, médicos, profissionais, vamos voltando ao cotidiano.
Será que nas preocupações do cotidiano vamos lembrar daquele sorriso de carnaval, da estranha do cabelo esquisito que dança bem e que dançou comigo? Do cara que vendeu água mais barato porque era carioca? Será que vamos nos lembrar dessa felicidade? Desse amor guardado que o coração explode na maior felicidade nesses quatro dias? Da furiosa entrando na avenida? Do passista feliz do metro? Do bêbado cantando no ônibus?
É, acabou o carnaval.

quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

O mundo da janela

Da janela o mundo é tão bonito. A paz reina de quem vê por dentro, eu não sei, não é o mesmo mundo da janela.
Daqui o mar parece chão que se movimenta bem devagarinho, barcos vem e vão, ás vezes algumas árvores somem e outras aparecem, mas as pedras, os prédios, os postes de luz, quanta coisa concreta. Os vejo desde que conheço essa janela.
Da outra posso ver pessoas caminhando, se me esticar vejo pedrinhas portuguesas, de um lado um prédio azul que dá vontade de demolir, do outro a torre de uma igreja e aqui bem em baixo a copa das árvores.
Mundo tão lindo daqui de cima, como se esconder, ver a vida de todos, da rua e ser invisível, sem ninguém te ver, sem estar vulnerável, alí no esconderijo de onde posso ver a todos, menos a mim, o que me faz sentir muito mais eu, sozinha e escondida.
Coitados dos que não tem uma parede com um janela, que sua janela é a rua e não têm onde se esconder, coitados daqueles que nunca poderão sumir por alguns instantes de suas vidas pela simples necessidade de viver e ser você mesmo.

sábado, 19 de janeiro de 2013

Registro Geral

Nunca tive um número para me definir.
Nunca tive um código.
Nunca tive sobrenome.

Nasci de ninguém e hoje sou ninguém.
Quando os homens do governo vêm me bater me chamam de vagabundo.
Fico por aí procurando moedas que acham que não é dinheiro.

Um dia um amigo me falou
que homens que têm
número,
nome,
casa,
agasalho
vão ao banco para pegar dinheiro
o lugar ideal pra conseguir um almoço.

Sentei na porta do banco
As pessoas que faziam caretas
mas já estava acostumado.

Veio a polícia,
Com um cassetete na mão
me mandou correr

Fugi, e na semana seguinte
lá estava a polícia com um senhor branco
que tem nome e número
pedindo dinheiro enquanto tocava um violão.

sábado, 12 de janeiro de 2013

Desabafo

Por um lado me sinto feliz por estar me sentindo tão livre, mas por outro a liberdade é tão grande que chega a dar vontade de chorar.
Estou cansada, estou exausta, mas não sei do que, acho que é de pensar, cansa muito, cansada de ter rotinas, compromissos, tarefas.
Queria um dia acordar livre, ter um espaço meu e fazer o que eu quiser, sozinha ou não, não digo que meu dia seria muito diferente, mas vou sentir que o que eu estou fazendo eu quero fazer e não que eu tenho que fazer.
Não sei se eu já fiz algo que eu quisesse, algo que que me sentisse livre e madura.
Tô cansada, não é muito a dizer. Quero deixar que as músicas cantem por mim, que os livros pensem por mim, que os outros falem por mim. Estou cansada das mesmices de sempre, ah sempre, por que sempre é tão repetitivo?
Viu, comecei a pensar, não quero isso, vou parar. Vou tentar ser livre com uma página.

sábado, 29 de dezembro de 2012

Palavras perdidas

Resolvi criar uma pasta com todas as minhas cartas. Peguei todas as minhas notas mentais, todos os meus papeis amassados, envelopes caídos por de trás da mesa, revirei todas as minhas gavetas e cadernos. Lá estavam todas as minhas cartas reunidas dentro de uma pasta.
Muitas cartas, tantas que a pasta mal fechava, estavam ali, todos os sentimentos que nunca tiveram coragem de serem mandados, todos que se perdiam misteriosamente dentre outros papeis, ás vezes caía atrás da escrivaninha onde não seria mais possível de achar, outras vezes se perdiam na própria cabeça usando de desculpa o "a inspiração fugiu" e fica tudo que você pensou na cabeça e no papel sobram as palavras "Saudades, te amo."
E dentro daquela pasta estava tudo, estavam todos os diálogos que sempre quiseram existir, mas que por motivos humanos nunca foram colocados em prática. Aquele "Saudades, vamos nos ver" ; ou aquele "Sei que muita coisa mudou" ; ou aquele " Eu te amo" ou "te admiro"; ou aquele "EU TE ODEIO MAIS QUE TUDO"; ou "Você é louca, mas eu te amo." ou aquele "Devolva o meu livro o mais rápido possível e se puder devolva junto minha camisa e meu sapato." ou o simples e amedrontado, molhado de lágrimas "O que houve?" ou "Sou tão errada assim?" ou uma simples nota com a matéria da prova de história, ou lembrando de colocar a mochila no sapateiro que nunca coloquei.
Tantas cartas, todas estavam ali, cartas para amigos, inimigos, parentes, amigas, admirações, para o mundo, para a natureza, para mim mesma, aquela nota mental, o texto que fugiu, o imbox que nunca mandei, recados que se perdem em qualquer lugar, entre a mente ou HD de computador, na escrivaninha, na mesa, no caderno escondido que me ofendo se chamam de diário, no quarto dos outros, na casa dos outros, nas ruas, em qualquer lugar, todas as minhas palavras tímidas estavam dentro daquela pasta.